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ARACAJU, DE CIDADE DE PALHA À CAPITAL
 
 
 
Figura 15 – QR Code vinculado ao Obelisco do Fundador

“Com estoico valor, com sofrimentos

Sua história deixou-nos gloriosa

Da capital lançando fundamentos.

 

 “Não morreu quem de herói os foros goza,

Sergipe e o Aracaju com sentimentos.

O teu nome recordam, gran Barbosa”

ALMEIDA, Aurélio Vasconcelos de. Esboço Biográfico de Inácio Barbosa, Aracaju:FUNCAJU/Sercore, 2002, p. 83.

      Numa manhã de sábado do dia 17 de março do ano de 1855 em meio a dunas, pântanos, manguezais e lagoas de água salobra, mas também água doce, cajueiros ainda mais doces e muitas araras lindas com seus característicos cânticos não tão lindos assim, surgiu o Dr. Inácio Barbosa, numa colina à leste do Rio Sergipe, no então Povoado de Santo Antônio de Aracaju, à época vinculado a Santo Amaro das Brotas. O jovem presidente da Província de Sergipe vinha da então capital São Cristóvão, encontrava-se acompanhado de políticos como o Sr. João Gomes de Melo, o Barão de Maruim, para assinar uma resolução que mudaria a história daquela vila de pescadores, constituída de casas de taipa forradinhas de melão, ou seriam folhas de coqueiro?  O certo, é que era uma vila de pescadores, de catadores de mariscos, caranguejos, de salineiros, uma gente simples que também se dedicava ao fabrico de artigos de barro.

      Desde a remota época do famoso cacique Serigy, lá nos anos 1590, que você certamente já deve ter ouvido falar, passando pelos anos 1660, a era do também indígena de nome João Mulato, essa vasta planície que por vezes era tomada por enchentes do oceano, chamava a atenção das autoridades, as quais enxergavam ali um potencial, o futuro. Observe o mapa abaixo, ele representa Aracaju no ano de 1855.

 

Figura 16 – Aracaju em 1855

 

Fonte: Revista de Aracaju, nº 2, 1944.

      Você sabia que esse território acima sempre teve a primazia todas as vezes que foi preciso escolher uma área para sediar a capital de Sergipe?[1] Amigo leitor, o conquistador do nosso Estado, Cristóvão de Barros, em 1590, após vencer a resistência indígena comandada pelos caciques Japaratuba, Pacatuba, Siriri e Pindaíba, instalou a capital São Cristóvão, não onde ela hoje se encontra, às margens do Riacho Paramopama, um afluente do Rio Vaza Barris, mas sim nas imediações do território que hoje compreendemos como Aracaju.  A Primeira São Cristóvão ficava às margens do Rio Poxim, em ponto próximo à foz do Rio Sergipe, à época descrito em mapas cartográficos como Cotinguiba. Vejam que tanto Cristóvão de Barros quanto Inácio Barbosa, separados por 265 anos, tiveram a mesma ideia: a área de Aracaju para abrigar a capital. Por sinal você é sergipano? De que lugar do menor Estado da Federação você é? Conhece Aracaju? Nome curioso a capital do nosso Estado tem, não acha? Você sabe qual a origem dele e o seu significado? Não? Sem problemas, conversemos sobre esse tema.

      A explicação etimológica da palavra Aracaju é controvertida.[2] Não há entendimento entre os estudiosos do Tupi original. Alguns acreditam que o vocábulo significa “cajueiro dos papagaios”. A palavra seria na sua formação primitiva: “ará = papagaio”, e “acayú = fruto do cajueiro”. Tal compreensão é a favorita e, portanto, mais conhecida por parte dos sergipanos. Mas saiba que não é a única, não há dúvidas quanto ao “caju”, encontrado no termo Aracaju. O problema está na “ara”, que tem acepções como nascer, ocorrer, acontecer, suceder, colher, dia, tempo, época, estação do ano. Perceba, amigo leitor, a questão é decidir se a palavra Ara indica uma ave, tempo ou lugar. É isso mesmo que leu, pois há também uma outra interpretação para Aracaju que seria simplesmente “lugar dos cajueiros”. Que confusão, não é verdade? Mas trarei mais uma informação. Há relatos de que Aracaju seria o nome de um riacho que passava nas terras da capital dos sergipanos. Estamos curiosos para saber de você qual a sua explicação etimológica preferida da palavra Aracaju, cajueiro dos papagaios, cajueiral ou tempo dos cajus? Independentemente da sua escolha, você está certo e isso é muito agradável, assim como é o pseudofruto chamado caju. É isso mesmo! O fruto do cajueiro é a castanha. Não acredita, não é? Saiba que não é pegadinha. Pesquise sobre isso ou pergunta ao seu professor de ciências, pois ele te explicará melhor.

      Agora que já conhece tudo sobre o nome Aracaju, podemos retomar nossa conversa sobre a transferência da capital sergipana. Saiba que esse processo foi feito aos poucos, antecedido à administração do Dr. Inácio Barbosa. Em 1832 o líder político sergipano, Almeida Boto, propôs a mudança da capital para Laranjeiras[3], mas o plano não teve êxito. Alguns anos depois cogitaram cidades como Maruim e Estância, porém assim como Laranjeiras, elas ficam distantes do mar, não dariam certo.   Olhem o que ficou estabelecido com a resolução nº 234[4], de 16 de junho de 1848, ou seja, 7 anos antes da mudança da capital.

      Artigo 1º- Fica criada uma cadeira de primeiras letras para meninas na povoação de Santo Antônio de Aracaju, com o ordenado ano de 300$000.

      Artigo 2º- Ficam revogadas as disposições em contrário.

      Depois da criação dessa escola para meninas, foram transferidas para Aracaju[5] a Alfândega, uma Mesa de Rendas, uma subdelegacia policial e uma Agência do Correio. Será que tais ações foram por acaso? Ou já havia a intenção de transferir a capital para Aracaju? Após esses informes você deve concordar que o projeto de mudança de capital sergipana, de São Cristóvão para Aracaju, não se deu de forma repentina, como um estalar de dedos ou um piscar de olhos, engana-se quem pensa assim.

      A elevação de Aracaju à condição de capital acontece em um momento bastante conturbado da política sergipana. A década de 1840[6] traz para Sergipe a rivalidade entre Liberais e Conservadores, e alternância no poder. Essa alternância não foi capaz de aliviar as tensões existentes, a política sergipana continuava conturbada e violenta. Partidários dos Liberais e dos Conservadores invadiam fazendas e intimidavam seus moradores, recrutavam militarmente pessoas e intimidavam adversários, atacavam opositores viam imprensa, fustigavam presidentes da província de Sergipe, cargo equivalente ao que hoje chamamos de Governador de Estado. Para você ter uma ideia da bagunça que era a política no nosso Estado[7], entre 1820 e 1889, Sergipe teve 115 presidentes, tivemos uma média de 2 por ano, nosso Estado não era mesmo para amadores, em?

      É nesse Sergipe que o Dr. Inácio Barbosa Filho desembarca no dia 17 de novembro de 1853. Mas quem ele era? O convido a conhecer um pouco mais sobre o fundador de Aracaju. Alguns falam que ele teve origem humilde, outros que era de família de muitas posses. Barbosa era carioca, formado em Direito, tinha uma visão progressista, um homem muito bem relacionado. Apesar da sua pouca idade quando nomeado presidente da província de Sergipe (30 anos)[8], já era viúvo, pai de duas garotinhas e bastante experiente, pois tinha anteriormente exercido importantes cargos como Juiz de Direito, procurador fiscal, deputado geral, secretário e vice-presidente da província do Ceará. O Dr. Barbosa foi o pacificador de Sergipe[9], estabeleceu[10] a conciliação entre adversários políticos, era dinâmico, abriu estradas, construiu pontes, ergueu atalaias, restabeleceu a capitanias dos portos sergipana, concluiu a abertura do canal do Pomonga introduzindo o sistema de rebocagem a vapor no Cotinguiba, melhorou a arrecadação fazendária, quanto em tão pouco tempo não é verdade?

      Porém nem todos vêem o Dr. Barbosa com bons olhos e nem como o protagonista da mudança da capital, entendam que assim como a origem da palavra Aracaju suscita um debate extenso, o mesmo também pode acontecer com fatos e personagens históricos, pois a História é subjetiva, ela é determinada pelas fontes. Com isso em mente, saibam que o Dr. Barbosa não é unanimidade, exemplo disso é a interpretação[11]. De alguns poucos historiadores de que ele não passou de um executor de ordens do Barão de Maruim, um “pau mandado” como se fala em terras sergipanas. Há também quem afirme que o Dr. Barbosa jamais pensou na mudança e que teria agido amparado pelo prestígio do Barão.

      Estamos com a maioria dos historiadores, entendemos que a Mudança da Capital foi direta ou indiretamente a maior realização do Dr. Inácio Barbosa e que apesar do pouco tempo que esteve à frente de Sergipe (1853 a 1855) a ele não faltou vontade e coragem para transformar a província. A História não trabalha com conjecturas, com o “SE”, mas levantemos uma questão, vamos nos permitir. Será que naquele Sergipe dividido politicamente, onde imperava a discórdia e o desentendimento, se o Dr. Inácio Barbosa não tivesse aqui as elites sergipanas teriam feito algo que nunca fizeram, ou seja entender-se? Entrarem em acordo para consumar algo extremamente polêmico, mudar a capital sergipana de Aracaju para uma planície desabitada, de praias, dunas, caranguejos, melancias e manguezais?

      Nem todos concordavam com a mudança da capital[12]. Havia quem entendesse que São Cristóvão reunia todas as condições para continuar como capital, mas a verdade é que a cidade já tinha cumprido o seu destino histórico[13], na sua colina, fora atacada, lutara e reagira no passado aos ataques de franceses e holandeses. A Mudança da capital era um projeto sergipano[14], que teve o Barão de Maruim seu principal articulador e o Dr. Barbosa seu executor e maior entusiasta. São Cristóvão era uma cidade emperrada, de difícil acesso para navios, considerada decadente e miserável. A nova Capital precisa ser capaz de escoar a produção açucareira sergipana[15]. Era necessário descer o morro, abandonar sua posição defensiva e vir para a planície em direção ao mar. Organizemos as ideias amigo leitor, três foram os motivos para a mudança da capital, o político, o econômico e o geográfico. O primeiro está relacionado ao Barão de Maruim, que usara de seu prestígio junto a corte para a aprovação da mudança da capital. Dizem que o conservador Barão de Maruim e seus aliados pretendiam diminuir o poder de Almeida Boto, um político local e líder do partido liberal. No fundo[16]  o Barão via no projeto da nova cidade a derrota do grupo de Boto, os senhores do vale do Vaza Barris no âmbito comercial e político.  O segundo, o econômico, diz respeito a decadência da antiga capital e ao escoamento do açúcar, pois apenas[17] 2000 sacos de açúcar eram exportados pelo Vaza-Barris, já pela Barra do Rio Sergipe, nas imediações de Aracaju, saíam 25.000 sacos. Temos por último o geográfico, São Cristóvão dependia do movimento das marés para viabilizar a navegação. Dessa forma era necessária uma região que pudesse abrigar uma estrutura portuária, e essa região você já sabe qual era, Aracaju.

      Diante dessas questões no 21 de fevereiro de 1855[18], no Engenho Unha de Gato, o Dr. Inácio Barbosa enviou convites, por sinal também assinados pela Barão de Maruim, aos deputados para uma reunião importante e que definiria o futuro da Província. Depois de protestos da Câmara de São Cristóvão, mas sem recuar, no dia 17 de março de 1855 o dono da caneta, o presidente da Província de Sergipe Dr. Inácio Barbosa, em um ato personalíssimo e intransferível assinou a resolução 413 da Assembleia Legislativa, que elevava o povoado de Aracaju a categoria de cidade, transferindo para lá, a capital da Província.

      Você acredita que os São Cristovenses aceitaram a mudança? Mas é lógico que não, nada no pequeno Sergipe é fácil e Inácio Barbosa seria testemunha disso. A velha capital protestou[19], o lendário João Bebe Água, que hoje dá nome a uma rodovia que liga Aracaju à São Cristóvão, já passou por ela? Pois bem João à frente de 400 homens armados pretendiam reagir, mas a empreitada foi abandonada e hoje a antiga e a nova capital se encontram conturbadas, ou seja, cresceram e hoje formam junto com Nossa senhora do Socorro e a Barra dos Coqueiros um só conjunto urbano. Entretanto os primeiros dias de Aracaju não foram fáceis, até se tornar a capital que nascera e fora projetada para ser muito penou, porém só analisaremos o processo de afirmação, transformação e expansão de Aracaju no tópico 3,8 e você é o nosso convidado principal.

 

Exercícios de aplicação

1. No ano do centenário de Aracaju, 1955, a cidade via projeto de lei nº 108 ganhou um dos seus símbolos, seu hino. Ele é pouco conhecido pela população aracajuana, a letra é do poeta José Sales de Campos e a música do maestro José Albuquerque Feijó. Analisem-no e depois respondam o que se pede:

Hino de Aracaju

“Terra amada, cem anos de glória,

cingem, hoje, teu nome imortal,

exaltando, no tempo e na história,

de Inácio Barbosa, o ideal!

 

Só um gesto de rara ousadia,

repelido por homens sem fé

soerguer, com valor, poderia

esta terra que vence, de pé!

 

Elevar uma praia isolada

e fazê-la florir capital,

é ter pulso, é ter alma inclinada

à grandeza, à bravura, afinal!

 

Relembramos, com patriotismo,

sob o oiro do Sol do presente,

a mais nobre lição de civismo,

esse feito do audaz presidente!

 

a) Ao ler o Hino de Aracaju vemos homenagens direcionadas a um personagem que marcou a história dessa cidade, quem é ele? A partir do que você estudou, entende como justa as homenagens prestadas a esse personagem? Justifique.

 

b) Na segunda estrofe o compositor do hino de Aracaju escreve “Só um gesto de rara ousadia”. O autor está se referindo a qual gesto? Explique o porquê de se afirmar que este gesto fora de rara ousadia?

 

2. Leiam o texto abaixo, analisem o brasão de Aracaju e respondam o que se pede:

Aracaju é uma porção de terra de légua e meia em diâmetro, entre o Rio Poxim grande, ao sul, e o Sergipe ao Norte, quando neste, antes de chegar ao mar, entra e faz barra aquele, ficando cercada esta barra a modo de istmo, por estes rios, quando se vão a unir um com o outro, e pelo levante, e mais largo, rodeado de um grande e invadeável alagadiço, que começando das ribeiras do Poxim (...) deixa algum terreno livre para as margens do Sergipe, abundantes de salinas, das quais se provê toda a capitania e alguma vizinhas em necessidade.

SILVA. Clodomir. Aracaju. Revista de Aracaju. n. 10, p. 281, 2003.

Figura 17 – Brasão de Aracaju, criado pela Lei nº 6, de 27 de janeiro de 1955

 

 

Fonte: Disponível em: https://www.aracaju.se.gov.br/obras_e_urbanizacao/index.php?act=leitura&codigo=37297. Acesso em 23 dez. 2021.

a) Ao ler o primeiro parágrafo da página XXXX, do texto base dessa questão e analisando o Brasão de Aracaju, vemos referências a uma atividade econômica em dado momento praticada na capital sergipana, qual seria essa atividade?

b) Vemos que a atividade econômica mencionada na questão anterior foi por muito tempo umas das mais importantes de Aracaju, à ponto dela ter representação no próprio brasão da cidade. Faça uma pesquisa, em seguida debata com seus colegas como essa atividade se encontra atualmente na cidade de Aracaju.

c) Analisando o Brasão de Aracaju vemos alguns símbolos e uma inscrição, o que eles representam? Qual o significado deles?

3. Temos nas imagens abaixo um Obelisco, trata-se de um monumento comemorativo, analise as imagens abaixo e responda o que se pede:

 

Figura 18 – Obelisco do fundador

       

 

Fonte: Acervo particular do autor, Março/2021.

Escrita no Obelisco construído em homenagem ao Fundador de Aracaju, o Dr. Inácio Barbosa a resolução 413 do dia 17 de março de 1855 traz:

 

“Art 1- Fica elevado a categoria de cidade o povoado de Santo Antônio de Aracaju, na barra do Cotinguiba, com a denominação de cidade de Aracaju.”

“Art 4- Fica transferida, desde já, da cidade de São Cristóvão para a de |Aracaju, a capital desta província.”

 

A partir do exposto identifique os fatores que levaram à Mudança da Capital de São Cristóvão para Aracaju e analise como se deu o processo:

 

Notas:

[1] SILVA. Clodomir. Aracaju. Revista de Aracaju. n. 10, p. 285, 2003

[2] ALVES, F. J. Aracaju, que significa? Revista de Aracaju. n. 10, 2003, p. 87-91.

[3] OLIVA, T. A. Aracaju na História de Sergipe. Revista de Aracaju, Aracaju - Sergipe, v. 9, 2002, p. 121.

[4] SILVA. Clodomir, op. cit. p. 286  

[5] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Banese, 3ª edição, 2001, p. 30.

[6] SILVA, Maria Izabel Ladeira. O Pacificador: Inácio Barbosa e a Politica Sergipana. Revista de Aracaju, Aracaju, v. 01, n.09, p. 107, 2002.

[7] Ibid., p. 108.

[8] ALMEIDA, Aurélio Vasconcelos de. Esboço Biográfico de Inácio Barbosa. Aracaju, Gráfica Sercore, p.15-30. 2000.

[9] SILVA, Maria Izabel Ladeira, op. cit., p. 103.

[10] ALMEIDA, Aurélio Vasconcelos de, op. cit. p. 278.

[11] OLIVA, T. A. Aracaju na História de Sergipe. Revista de Aracaju, Aracaju - Sergipe, v. 9, p. 118, 2002.

[12] Ibid., p. 115.

[13] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Banese, 3ª edição, p. 30, 2001.

[14] OLIVA, T. A. Aracaju na História de Sergipe, op. cit., p. 119.

[15] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju, op. cit., p. 30.

[16] OLIVA, T. A. Aracaju na História de Sergipe, op. cit., p. 117.

[17] CABRAL, Mario. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Banese, 3ª edição, 2001, p.30. 

[18] Ibid., p. 31.

[19] Id.

 

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Obelisco do FundadorProfessor Camillo Gustavo
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